- Gazeta – 17.05.2012 - M E T R A L H A D O R A - Maurinho Adorno
Cadeia aos militares torturadores
Ao instalar ontem a “Comissão da Verdade”, destinada a levantar as ocorrências violentas entre 1946 e 1988, a presidente Dilma Rousseff chorou. E não era para menos, afinal, ela enfrentou por dois anos as sevícias nos porões da ditadura militar que se apossou das instituições no fatídico dia 31 de março de 1964. Embora ainda ressentida com os seviciadores da época, ela garantiu que “não nos move o revanchismo, o ódio ou o desejo de reescrever a história de uma forma diferente do que aconteceu”. Não posso concordar com Dilma, pelo menos em parte. Não há realmente lugar para revanchismo e, se os trabalhos fossem nessa direção, eles não seriam imparciais. Da mesma forma, o ódio não leva a nada. A Justiça, de outro lado, deve ser feita de forma serena, sem injunções políticas ou de qualquer espécie.
A história deve ser contada para que as atuais e as gerações futuras conheçam esse lado sombrio de nosso passado, e também para que sirva de exemplo para que a população não permita esses desequilíbrios mentais de homens que, sob o manto da farda, extrapolaram o poder a que eles próprios se investiram. Mais do que levantar apenas nomes, há de se buscar meios legais para que esses tiranos paguem pelos excessos que cometeram. Foi e ainda é assim com os liderados do ditador alemão Adolf Hitler - até nossos dias procurados ou sendo processados por tribunais internacionais. Não se pode admitir a anistia em casos como o vivido em nosso país nos anos de chumbo do militarismo. É preciso punir severamente os que agiram ao arrepio da lei penal, após um julgamento isento, com amplo direito de defesa.
Na época da discussão do texto em que foi criada a “Comissão da Verdade”, os militares fizeram uma violenta pressão junto a deputados e senadores para que as atribuições dessem o respaldo para a impunidade. Uma atitude bastante lógica para os que temem que seus atos sejam escancarados à sociedade como típicos de atrocidade. Sempre digo que quem não deve não teme e os que devem têm que pagar pelos seus erros e desatinos. Naquele momento em que a revolução foi deflagrada, mais do que tomar o poder a força, houve perseguição e mortes até hoje não apuradas. Pior, há corpos desaparecidos até nossos dias. Essa investigação deve também ser focada nos insurgentes que se excederam na tentativa de resgatarem as liberdades individuais e restaurar a democracia.Como no Brasil normalmente as apurações terminam na chamada pizza, o trabalho dessa comissão também pode não chegar aos verdadeiros agressores. Em primeiro lugar, pela exiguidade de tempo – dois anos – para que os 7 membros consigam levantar documentos e tomar depoimentos em todos os quadrantes do país e, em segundo, por uma lei de 1979, cujo teor impede que os autores de crimes políticos desse período sejam processados judicialmente. Nada mais que uma anistia. E não é justo se anistiar as atrocidades que fizeram em nome de uma pseudo revolução realizada com truculência. E isso é válido também para os que se insurgiram com violência na luta pelo restabelecimento do regime democrático. Há a expectativa de que, com conhecimento amplo das atrocidades, a sociedade civil e organismos internacionais de direitos humanos se unam e consigam rever essa anistia absurda.Estamos no Brasil. E, para finalizar, lembro aos leitores que a presidente Dilma fez o anúncio da instalação da “Comissão da Verdade”, ao lado dos ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. É de dar risada. Lula e FHC levaram as chicotadas dos militares, numa época em que Sarney se postava ao lado dos homens que empunhavam os chicotes. Ele é o que chamamos de filhote da ditadura.
Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista
e ex-diretor dos jornais Gazeta Guaçuana e O Impacto.
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