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domingo, 8 de julho de 2012

NOSSO CANTINHO - numa gentileza do Maurinho - SUA HOMENAGEM AO CÓRINTHIANS E AO OCTACÍLIO, um mogimiriano córintiano, uai... CAMPEÃO DA LIBERTADORES...


Octacílio e o jejum do Corinthias

Mauro Adorno


Octacílio dos Santos, o pintor Octacílio, estava empolgado no mês de outubro de 1977. No domingo, 13, no Morumbi, o Corinthians, seu time do coração e da alma, iria enfrentar a Ponte Preta pelas finais do Campeonato Paulista. Era a quebra de um jejum de 22 anos e 8 meses, e ele precisava estar no Morumbi. Naquela semana, ele exultava em alegria pelo Palmeiras estar fora da disputa. “Nós derrotamos eles três vezes este ano”, dizia, sem mencionar a partida em que sua equipe foi goleada pelo alviverde por 4 a 1. O time precisava dele. Ainda mais por ter tido conhecimento de um fato importante e significativo em sua vida: o Corinthians fora fundado em 1910, por três pintores residenciais, portanto, colegas de profissão. Era quarta-feira, dia 9.
Naquela noite, no Bar do Jorge, aquele especializado em lanches, do Jorge Donatti, viu seu Curintia ser derrotado pela própria Ponte por 2 a 1, de virada. Na finalíssima, dependeria apenas de um empate. E da torcida dele. A situação era crítica, pois a “Macaca” poderia se tornar o carrasco de seu time. E ele não poderia admitir isso. Em meio a uma pinga e outra, umas cervejinhas pagas pelos amigos, embriagado pelo resultado absurdo, decidiu em definitivo: “eu vou à final”. Remexeu os bolsos, contou o dinheiro, e se lembrou de que em casa tinha mais um pouco, guardado para dar entrada em uma televisão em cores, a ser comprada na Casa Botelho. Agora, era só comprar a entrada antecipadamente, as passagens do “Cometa” e comemorar o desjejum junto à Fiel.
Pensou em pedir ao Fabiano de Christo Gurjão, o Camarão, torcedor fanático e uma espécie de embaixador do Corinthians na cidade, para que comprasse o ingresso. Mas, para sua decepção, ficou sabendo que o Camarão era íntimo do Wadih Helu e o presidente da época era o Vicente Mateus. E ele não queria conversa com o pessoal do Wadih. Sempre dizia: Ele – Wadih – ficou 10 anos na presidência e é culpado pela fila. Pensou seriamente em falar com o Pedro de Paulo Brandão, corintiano que tinha condições de mandar vir seu ingresso de São Paulo, mas num ímpeto de lucidez, lembrou que não tinha amizade suficiente para o pedido. Então, falou para o Gustavo, filho do Jorge, estufando o peito: “vou até lá e compro o ingresso, Custe o Que Custar”. Acho que a Bandeirantes roubou sua frase.
No domingo, saiu às 4,30 horas da rodoviária, radinho de pilha debaixo do braço. Na capital, tomou um trem, um ônibus, e mais uns quilômetros, deparou à sua frente com o majestoso Morumbi. Pensou consigo “ganhar no estádio do São Paulo será mais saboroso ainda”. Na portaria, a grande decepção – lotação esgotada. Os 86.400 foram todos vendidos e não sobrou nenhum deles. Lamuriando, pensou: devia ter pedido ao Pedro Brandão. Naquela hora lembrou também do Genaro Botelho, para quem trabalhou ainda jovem vendendo picolé em carrinho de sorvete. Não teria adiantado, pois Genaro era palmeirense “roxo". Mas, já era tarde. Mesmo assim, Octacílio estava decidido. Pegou todo o dinheiro da entrada da televisão, estufou novamente o peito e disse com orgulho a um cambista: “dá um ingresso, pois não poderei perder essa partida”.
Estava pronto para ver seus ídolos ao vivo. Só os via numa televisão chuviscada e a nova tinha virado pó. Ao chegar à portaria, nova decepção – o ingresso era mais frio que inverno no Polo Norte. Chorou ao contar seu infortúnio ao porteiro. Não teve jeito. Octacílio sentou numa sarjeta, sacou seu radinho e, junto de alguns companheiros de torcida, começou a escutar a transmissão do Fiori Gigliotti. Aos 16 minutos, vibrou com a expulsão de Rui Rei, excelente atacante da Ponte. O sofrimento acabou aos 36 minutos do segundo tempo, com um gol de Basílio. Octacílio feliz. Não importava se a vitória saiu pela macumba do Mateus ou se ele não entrou no estádio. Fim do sofrimento de 22 anos. Festa total. Na segunda-feira, às 7 horas, um “Cometa” encosta na Rodoviária. Octacílio desce, vai ao bar, pede um cafezinho e diz orgulhosamente ao balconista: “estou chegando de São Paulo; fui assistir à vitória do meu Curintia”. Como se estivesse assistido de camarote.


Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista
e ex-diretor dos jornais O Impacto e Gazeta Guaçuana.

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