Sob o olhar de Maurinho Adorno – Gazeta 04.12.2014
O Natal e suas
tristes diferenças
Eu tenho uma amiga, a Márcia Helena: é gente fina, benemérita. Todos os anos ela pede bolas aos amigos e às vésperas do Natal sai para distribuir nos bairros, com sua caminhonete e com carros de amigos. O Antonio Carlos Bigonjal acha mais interessante distribuir cestas básicas, enquanto o Tiago Pereira prefere entregar balas, pirulitos e outras guloseimas para as crianças. Eles são apenas alguns, dentre uma dezena ou até centenas de pessoas a praticar a solidariedade ao próximo, no momento sublime de comemoração ao aniversário de Jesus Cristo.
Nessa época, é comum as lojas ficarem repletas, com as pessoas fazendo suas compras, para presentear seus amigos e familiares, muitas delas gastando mais do que o bolso, os cheques e os cartões de crédito podem suportar; a maior preocupação é com os brinquedos para as crianças. Um exercício interessante às famílias é desovar os brinquedos comprados anteriormente, normalmente em desuso, e doar às crianças carentes da periferia. É também o momento de se distribuir as roupas que deram lugar às novas.
Os dias que antecedem o Natal me são angustiantes: fico imaginando as dificuldades de muitas famílias carentes e, mais ainda, daquelas que precisam do maior presente, o calor humano. Estou me referindo às pessoas internadas nos asilos, isoladas do mundo, esquecidas até mesmo de seus familiares. Um afago na cabeça e uma prosinha é o melhor presente que essas pessoas aguardam numa época significativa de suas vidas.
Após ver na televisão a verdadeira novela – todo dia tem um capítulo novo – da roubalheira dos bilhões dos cofres da Petrobras, uma empresa que é do povo brasileiro, eu comecei a refletir sobre o quanto a dinheirama seria útil para a população, como nas áreas da saúde, educação, etc. Estou pensando em ligar ao juiz federal que preside o inquérito, e pedir a ele que vista todos os denunciados com roupa de papai Noel, obrigando-os a distribuir o dinheiro aos mais necessitados.
Após o Natal, vem o Ano Novo. Em meu tempo de criança, meninos e meninas vinham à nossa porta “tirar o Bom Ano”, como se dizia na época. Meu pai separava umas moedas de pequeno valor – tínhamos dificuldades financeiras – e nós a distribuíamos aos meninos, uma a cada um, até terminar o estoque. Algumas famílias esperavam os visitantes com balas e doces. Um dia, vendo a garotada ganhar dinheiro de uma maneira até certo ponto fácil, pedi à minha mãe para percorrer os vizinhos e “tirar o Bom Ano”. Levei um sonoro não. Mas, acho que não teria sucesso na empreitada, pois eu era um menino tímido.
Ao escrever sobre o momento santo do Natal, como sempre o faço, deixo uma crítica a algumas famílias: elas trocam presentes, comem leitoa e panetone, bebem até com exagero, mas esquecem do aniversariante. Disse algumas famílias, pois como em tudo, há exceções. Muitas delas fazem suas orações antes da ceia e outras vão às igrejas e templos para fazer oração. Católico de nascimento, íamos sempre à Missa do Galo, um evento esperado também pelo fato de sair à noite.
Existe uma hipocrisia nos dias antecedentes até o dia 25 de dezembro. As pessoas saem às ruas, alegres, uns cumprimentando os outros, desejando um “Feliz Natal”. No “Day after” um não cumprimenta mais o outro. Esse espírito de Natal, em que imperam a cordialidade, o respeito e a consideração com o próximo, deveria perdurar durante todo o ano vindouro. Afinal, Natal é todo dia. E, desde já um Feliz Natal sem exageros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário