Rosangela Scheithauer-Diogo Bueno |
Outra cronica
Saudade de cheiros
(Rosangela Scheithauer)
Cheiros... ah! Como é bom ter um bom olfato e poder distinguí-los. Os cheiros das coisas da infância, por exemplo, esses ficam marcados para sempre. Eu que já estou há tantos anos fora do lugar onde nasci e cresci, se me colocassem um lenço nos olhos, me transportassem para lá e me perguntassem onde estou eu saberia dizer no ato! A própria chegada ao Brasil já é peculiar, ao abrir a porta do avião já dá pra sentir o cheirinho de Brasil! Ali na região onde cresci o olfato "faz a festa"! Que coisa boa poder sentir o cheiro de eucaliptos, de mato, de sítios, cavalos, vacas e pasto. O cheiro por lá é interminavelmente de interior, só quem lá nasceu para saber que é assim mesmo!
Nos mercados de rua então nem se fala, é aquele cheiro maravilhoso de peixe, carnes, frutas de todo gênero, tamanho e cor, verduras por toda parte, tudo unido ao mais gostoso som de conversa fiada, discussão de preço, gritos daqueles que querem vender mais pelo tradicional "Patroa, aqui é o mais baixo preço", de sorveteiros, pipoqueiros, vendedores de roupa, sapatos e outras "bugigangas" mais.
E quem é que não sabe que está num banheiro limpinho quando entra em um? Lá no Brasil é aquele cheirinho de Pinho Sol que antigamente eu detestava e agora adoro, pois volto ao meu tempo de crianca. Ou então o cheirinho de roupas lavadas com "Quiboa", penduradas no varal do fundo dos quintais! Que festa para os olhos ver toda aquela mistura de cores, calcinhas, sutiãs, cuecas, meias, fraldas, panos- de- prato, lençóis, tudo esticadinho e preso com prendedores de madeira.
E não vão me dizer que não se lembram dos tempos em que se passava cera no chão para ficar brilhando, escovava-se com escovador de mão ou com a enceradeira, um ritual de uma vez por semana que deixava a casa brilhando e aquele cheirinho durava a semana toda.
Cheiro de nenê novo então, que delicia. Os sabonetes Johnson eram indispensáveis para dar aquele toque final e aquele cheiro de "após banho" inesquecível. Hoje que os meus filhos já estão crescidos eu daria tudo pra sentir aquele cheirinho novamente.
E a comidinha caseira? Ô gente! Que coisa boa chegar em casa e sentir aquele "perfume" de feijão cozido na hora, um refogadinho e a mãe da gente dizendo: ""filha, hoje achei um milho lindo na feira e cozinhei pra você, do jeito que você gosta". Já que cheguei ao assunto de comidas, vamos lembrar do cheiro da galinha de panela, aquela que a mãe ou "vó" da gente matava lá no fundo do quintal, coitadinha da galinha, mas que depois a gente saboreava até escorrer pelo queixo.
Vamos falar a verdade, que coisa maravilhosa e dolorosa é a memória, não acham? Maravilhosa pois nos permite lembrar "como hoje" essas coisas do passado e dolorosa por nos fazer lembrar de coisas que não voltam mais.
Se eu lhes disser que não me esqueço nunca daquele cheirinho horrível da Champion, a multinacional de papel e celulose onde já trabalhei e que espalhava o seu odor por toda a região mogiana!
Esses cheiros todos me transportam para um tempo belo que existiu, fez parte de minha vida e marcou para sempre em minha memória.
Eu me pergunto se os cheiros das ruas de Viena ficarão assim tão marcados na memória de meus filhos?! Será que eles vão contar aos filhos deles como era bom o cheiro dos bondes?
Duvido... !
(Rosangela Scheithauer)
Cheiros... ah! Como é bom ter um bom olfato e poder distinguí-los. Os cheiros das coisas da infância, por exemplo, esses ficam marcados para sempre. Eu que já estou há tantos anos fora do lugar onde nasci e cresci, se me colocassem um lenço nos olhos, me transportassem para lá e me perguntassem onde estou eu saberia dizer no ato! A própria chegada ao Brasil já é peculiar, ao abrir a porta do avião já dá pra sentir o cheirinho de Brasil! Ali na região onde cresci o olfato "faz a festa"! Que coisa boa poder sentir o cheiro de eucaliptos, de mato, de sítios, cavalos, vacas e pasto. O cheiro por lá é interminavelmente de interior, só quem lá nasceu para saber que é assim mesmo!
Nos mercados de rua então nem se fala, é aquele cheiro maravilhoso de peixe, carnes, frutas de todo gênero, tamanho e cor, verduras por toda parte, tudo unido ao mais gostoso som de conversa fiada, discussão de preço, gritos daqueles que querem vender mais pelo tradicional "Patroa, aqui é o mais baixo preço", de sorveteiros, pipoqueiros, vendedores de roupa, sapatos e outras "bugigangas" mais.
E quem é que não sabe que está num banheiro limpinho quando entra em um? Lá no Brasil é aquele cheirinho de Pinho Sol que antigamente eu detestava e agora adoro, pois volto ao meu tempo de crianca. Ou então o cheirinho de roupas lavadas com "Quiboa", penduradas no varal do fundo dos quintais! Que festa para os olhos ver toda aquela mistura de cores, calcinhas, sutiãs, cuecas, meias, fraldas, panos- de- prato, lençóis, tudo esticadinho e preso com prendedores de madeira.
E não vão me dizer que não se lembram dos tempos em que se passava cera no chão para ficar brilhando, escovava-se com escovador de mão ou com a enceradeira, um ritual de uma vez por semana que deixava a casa brilhando e aquele cheirinho durava a semana toda.
Cheiro de nenê novo então, que delicia. Os sabonetes Johnson eram indispensáveis para dar aquele toque final e aquele cheiro de "após banho" inesquecível. Hoje que os meus filhos já estão crescidos eu daria tudo pra sentir aquele cheirinho novamente.
E a comidinha caseira? Ô gente! Que coisa boa chegar em casa e sentir aquele "perfume" de feijão cozido na hora, um refogadinho e a mãe da gente dizendo: ""filha, hoje achei um milho lindo na feira e cozinhei pra você, do jeito que você gosta". Já que cheguei ao assunto de comidas, vamos lembrar do cheiro da galinha de panela, aquela que a mãe ou "vó" da gente matava lá no fundo do quintal, coitadinha da galinha, mas que depois a gente saboreava até escorrer pelo queixo.
Vamos falar a verdade, que coisa maravilhosa e dolorosa é a memória, não acham? Maravilhosa pois nos permite lembrar "como hoje" essas coisas do passado e dolorosa por nos fazer lembrar de coisas que não voltam mais.
Se eu lhes disser que não me esqueço nunca daquele cheirinho horrível da Champion, a multinacional de papel e celulose onde já trabalhei e que espalhava o seu odor por toda a região mogiana!
Esses cheiros todos me transportam para um tempo belo que existiu, fez parte de minha vida e marcou para sempre em minha memória.
Eu me pergunto se os cheiros das ruas de Viena ficarão assim tão marcados na memória de meus filhos?! Será que eles vão contar aos filhos deles como era bom o cheiro dos bondes?
Duvido... !
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