terça-feira, 22 de março de 2011

A ALEGRIA DE SE ENCONTRAR ALGUÉM QUE FALE A MESMA LÍNGUA:


Rosangela Scheithauer-Diogo Bueno 22 de março às 02:22
DA ONDE CÊ É?

(Rosângela Scheithauer)



Tem certas frases que nos fazem voltar anos atrás e, de repente, em questão de minutos nos pegamos relembrando um momento do passado.
Foi o que me aconteceu alguns há alguns dias atrás dentro do metrô de Viena, encontrei um casal de Piracicabanos. Ouví quando falavam português e imediatamente sentei-me ao lado deles. Quando disse que era brasileira, a primeira pergunta deles foi:
- Da onde cê é?
Pronto! Minhas lembranças fizeram a festa. O sotaque deles, bem parecido com o de Mogi Mirim, onde nascí, fez-me „sentir em casa“.
Lembrei-me dos meus sobrinhos me chamando de „tchia“, das „carnes“ (pronunciada como o americano em „car“), do amigo Claudio que todo mundo chama de „Craudio“, da escola de „ingreis“ onde a minha irmã dá aula, da „muié“ do vizinho, dos „Batarde Dona“ que se ouve na rua, das „carças compridas“ e de tantos outros regionalismos que voltaram à tona numa fria manhã de inverno.
A conversa se desdobrou do „da once cê é“ para o „quê cê faiz aqui?“. Falamos muito de mim, sendo que eu queria mesmo era saber deles, ouví-los falar, relembrar!
Falamos das músicas sertanejas, das procissões dos cavaleiros (que tanto em Piracicaba quanto em Mogi Mirim sao tradicionais), das novelas, dos programas da televisão como „Os trapalhões“, „Fantástico“, „Silvio Santos“.
Eles óbviamente notaram a minha maneira carinhosa de falar das coisas da minha Mogi Mirim e acharam graça que estávamos em plena Viena comentando o último LP do Bruno e Marrone – que, aliás, infelizmente não possuo pois não existe para comprar aqui.
Disse a eles que se um dia voltarem a Viena e por acaso ouvirem um bom pagode ou o Roberto Carlos cantando „Nossa Senhora“ podem ter certeza que sou eu passando por ali.
Uma coisa é certa: o pessoal do interior em geral é bem mais amigo, mais alegre e mais „caseiro“ do que o da capital. É claro que há exceções, mas até hoje nunca encontrei uma pessoa do interior que fosse antipática.
Uma vez lí uma crônica em um jornal paulista cujo nome não me lembro contando a história de um grupo de pessoas discutindo o „erre“ do nome „Norma“. Aquele mesmo „erre“ da piada do jornalista americano que, entusiasmado com uma demonstração da cestinha brasileira, teria pedido para a mocinha para embocar a bola mais uma vez e disse „Once more“ ao que a moça respondeu: Sorocaba!
Não gosto quando alguém faz pouco caso do sotaque do interior paulista, sinto-me ofendida, pois nascí e crescí nessa região e me orgulho disso. Ignorantes são os que riem dos diferentes sotaques brasileiros, pois não sabem que por trás deles existe uma história, um hábito, uma cultura.
Jamais esquecerei a voz da minha adorada avó me chamando de „Fia“, nem dos meus sobrinhos me chamando de „tchia“, jamais esquecerei que eu também sou do interior, sim senhor!
E agora, com licença, vou dormir: Bánoite, gentchi!
Deus abencoe oceis!!!

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