O FIM DA VILA CHAMPION
Por Celso Mariano
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Quando foi construída a fábrica que hoje pertence à International Paper Company (fim dos anos 1950 e começo dos anos 1960), ao mesmo tempo foi construído um grupo de casas (em frente à fábrica e do outro lado da rodovia), que recebeu o nome de Vila Champion, com a finalidade de servir de residência de empregados da própria indústria. As casas da Vila Champion, que têm aproximadamente o estilo americano, eram rodeadas por um bosque de pinheiros da espécie Pinus elliottii, que não é nativa do Brasil. O Pinus é facilmente encontrado nos Estados Unidos da América, por causa do clima mais frio.
Cerca de dez anos após as mudas serem plantadas, elas estavam adultas. Assim, as casas e os pinheiros, quando olhados como um conjunto, ficaram parecendo um cenário próprio dos Estados Unidos. Eu sentia imenso prazer quando ia àquele local, para onde me deslocava a pé, de bicicleta ou de carro. Às vezes, quando ia de carro, eu parava lá e ligava o toca-fita para ouvir as músicas americanas arranjadas orquestralmente pelo maestro Billy Vaughn e presentes em seu LP "12 sucessos de Billy Vaughn; volume 2", lançado no Brasil em 1968. Algumas dessas músicas eram "Telstar", "I can't stop loving you", "Roses are red", "Ramblin' rose", "Born to loose", "Release me" e "Moon river". Quando isso acontecia (ficar lá parado ouvindo as músicas) eu me sentia como se estivesse em um recanto dos Estados Unidos.
De repente (no ano 2005), os pinheiros começaram a desaparecer e agora os lugares que eram ocupados por eles estão a descoberto. Existe alguma vegetação nativa crescendo num pedaço da área, com altura próxima de três metros. Reclamei (do corte das árvores) para a empresa, através de telefone, no escritório de São Paulo e no setor de meio ambiente da unidade de Mogi Guaçu, mas me disseram que a decisão de trocar (por mata nativa) as coníferas da Vila Champion era irreversível e até um dever imposto pelas leis federais do Brasil.
A respeito do plantio de vegetação nativa, eu sei que a IP tem muitos outros lugares para fazê-lo. Acho uma pena a erradicação dos pinheiros da vila, porque já eram árvores adultas (com cerca de 40 anos), bonitas e cheias de sombra. Acho também que já eram tradicionais e históricas, não só para mim mas para toda a comunidade guaçuana e para a própria IP. E é bom lembrar que elas faziam parte do conjunto fábrica/Vila Champion e que a vila é uma das áreas urbanas de Mogi Guaçu.
Existe alguma maneira de reverter a situação (parar de cortar e replantar as árvores já cortadas), sem transgredir as leis? Eu acredito que sim e peço-lhe uma atitute nesse sentido.
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O texto acima (limitado pelas duas linhas de hífens) é o corpo principal de uma carta (em inglês) que enviei, em outubro de 2007 (por e-mail e pelo correio, com Aviso de Recebimento) ao presidente mundial da International Paper Company, que despacha da matriz da empresa, na cidade de Menphis, estado do Tennessee, EUA. Como conversei com o pessoal do Brasil e eles (pelo menos aqueles com quem falei) se mostraram refratários a qualquer mudança na decisão de cortar os pinheiros da Vila Champion, resolvi escrever diretamente ao presidente internacional da IP, na esperança de encontrar nele uma pessoa sensível ao assunto, que desse uma ordem que viesse a reverter a situação.
Mas não adiantou nada. A carta foi repassada ao pessoal do Brasil, que, em essência, me deu a seguinte resposta: "As árvores têm que ser cortadas por exigência do Código Forestal Brasileiro. Elas podem cair e causar danos em linhas elétricas/telefônicas, veículos e até causar ferimentos e mortes de pessoas. A IP vai substituir todos os pinheiros por árvores nativas e pretende dar uma repaginada em toda a Vila Champion".
Com relação ao Código Florestal, me parece que não há a exigência de corte, se a árvore exótica está em área urbana e está sendo usada como planta ornamental. A respeito do perigo de a queda das árvores causarem danos e mortes, ele existe desde quando as árvores cresceram. Só foram perceber isso quase cinquenta anos depois. E bastava cortar apenas as que estavam próximas das ruas e não o bosque todo. Além disso, baseando-se no perigo de queda das árvores, nenhuma cidade poderia tê-las. Todas teriam que ser cortadas e as cidades ficariam arreganhadas aos raios solares, sem sombra natural nenhuma. O engraçado é que, na Vila Champion, só ficaram com medo de os pinheiros caírem, pois os gigantescos flamboiãs e outras árvores grandes dos canteiros de algumas ruas continuam lá de pé até hoje.
Sobre a repaginada do local, não vi nada ser feito. Pelo contrário, saiu uma reportagem no "Jornal Cidade" de 26 de novembro de 2011, página 1C, com o título de "IP estuda alternatinativas e pode decidir futuro da Vila Champion ainda este ano", que diz que as casas não estão sendo mais alugadas e que aquelas que estão vazias estão abandonadas, sofrendo as vicissitudes do tempo e o vandalismo.
Pelo jeito, o local que o jornal citado chama de "outrora glamourosa comunidade", ao invés de passar por uma repaginada, acabará sofrendo uma virada de página, ou seja, a Vila Champion chegará ao fim.
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