(Rosângela Scheithauer)
Incrível como o Natal chega logo quando a gente é adulto!
Lembro-me que, quando crianca, vivia perguntando à minha mae quanto faltava para que fosse Natal. Demorava tanto!
Minhas lembrancas dos nossos Natais sao as mais lindas, singelas e afetuosas que guardo comigo. Havia na Igreja da Santa Cruz (nossa Igreja Paroquial) uma „Preparacao para o Natal“ à qual participávamos assíduamente. Tínhamos que ir todos os dias à igreja onde ouvíamos estorinhas natalícias, rezávamos, cantávamos e, ao final, recebíamos um carimbo em uma cartelinha contendo 24 quadradinhos. A crianca que enchia a cartelinha com os 24 carimbos ganhava um presente que o Padre distribuia no dia 25 de dezembro. Íamos à tal preparacao óbviamente com a intencao de ganhar o presente, mesmo sabendo que seria apenas uma lembrancinha sem grande valor.
Nao tínhamos árvore de Natal como os pinheirinhos daqui da Áustria – as nossas eram improvisadas ou de plástico. A que mais me recordo era a árvore na casa da minha Tia Zuca. Minhas primas pegavam uma arvorezinha qualquer, tiravam as folhas, passavam cola nos astes e no tronco e, por fim, grudavam algodao para dar efeito de „neve“. Depois era só pendurar as bolas e pronto – focava linda! Eu adorava ir lá na casa delas só para admirar aquela bela árvore de Natal.
Eu e meus irmaos acreditávamos piamente no Papai Noel. Colhíamos capim para o burrinho e à noite cada um de nós enchia o sapatinho e o deixava às vezes na sala ou ao lado de nossas camas. De madrugada o Papai Noel retirava o capim e, ao lado de cada sapatinho, deixava o presente, que sempre era bem simples, porém ficávamos imensamente felizes.
Lembro-me de uma única vez em que o Papai Noel em pessoa veio trazer uma bicicletinha para o meu irmao José Enéas. Foi a maior alegria! A única coisa que nao entendí muito bem foi que o Papai Noel chegou de „Kombi“ e nao me lembro o que minha mae respondeu quando lhe perguntei onde estavam as renas!!
Na manha do dia 25, já com os presentes nas maos, saíamos pelas ruas da vizinhanca mostrando o que cada um ganhou e „comparando“ com os presentes das outras criancas.
À missa do Galo nós raramente íamos, pois nao conseguíamos ficar acordados até a meia-noite, porém, nao deixávamos de ir no dia 25. Lembro-me que nesta missa muitas criancas e também adultos usavam umas vestimentas engracadas simbolizando as dos tempos de Jesus.
Meus pais cantavam em um coral chamado Gregório Magno, usavam umas batinas vermelhas compridas e sempre saiam pelas ruas para cantar – eram as famosas serenatas de Natal. Minha mae, com sua maravilhosa e inigualável voz de soprano-maior, era a estrela do Coral. Em casa ela sempre cantava „Noite Feliz“ e a Ave-Maria de Gounod. Algumas vezes os agudos da voz dela eram tao vibrantes que chegavam a romper copos de cristal – isto eu cheguei a ver pessoalmente e até hoje ainda me arrepio quando penso. Uma „senhora“ voz era a dela, quanto me orgulho!! Meu irmao cacula, Ricardo, nao podia ouví-la cantar pois sempre chorava muito de emocao. Tínhamos que levá-lo para longe para que ela pudesse cantar.
O almoco de Natal era sempre em nossa casa. Vinham as avós, tias e outros parentes mais chegados. Havia sempre leitoa, frango assado e, como sobremesa, doce de figo. O que nunca faltava e, aliás, tradicao até hoje, era a Champagne com pessego servida nas tacas de cristal que minha mae só tirava do armário neste único dia.
Um outro fato peculiar de Natal que nao me esqueco era que havia uma novena do Menino Jesus organizada por uma das irmandades da igreja, creio que era a irmandade Coracao de Jesus. As senhoras usavam uma fita vermelha com uma medalha dourada e na cabeca nunca faltava o véu negro. Durante a novena o Menino Jesus „pousava“ cada noite em uma casa e era uma festa recebe-lo em nossa casa, a Mamae colocava a toalha mais bonita que tinha na mesinha da sala circundada de vasos de flores. Admirávamos aquela pequena imagem na mangedoura com muito carinho e respeito, rezávamos o terco e, ao final, era-nos permitido acariciar a imagem.
No primeiro dia de Janeiro nós saíamos, como todas as outras criancas, a pedir, ou melhor, desejar „Bom Ano“ a todos os conhecidos, vizinhos e parentes da redondeza. Na realidade, nossa intencao era ganhar uns trocadinhos, o que sempre acontecia. Esperávamos ansiosos a saída do pessoal que ia à Igreja para pedir-lhes „Bom Ano“ – já com as maos esticadas aguardando a moedinha. O mais generoso de todos era o inesquecível Sr. Pedrao Simoso, ele sempre dava grandes gorjetas à criancada – nós o adorávamos.
Este costume de „Bom Ano“ existe até hoje, meus pais sempre deixam uma moedas para os primeiros que chegam. Os retardatários ganham balas ou bonbons!
Nós nunca tivemos luxo algum, era tudo muito simples, porém tudo feito com amor e dedicacao. Eram momentos puros, repletos de muita emocao.
Acho que enquanto existirem familias como a nossa, com certeza os Natais continuarao sendo maravilhosos!
DESEJO UM FELIZ E ABENCOADO NATAL A TODOS!
Psiu - nossa pensadora lá da Áustria - e sempre inspirada - nos envia esta ilustrativa complementação... (via facebook - às 05h45 deste lindo dia 13 de dezembro de 2011)
Oi Dino!
ResponderExcluirA "ilustrativa complementacao" que lhe enviei virou uma outra cronica!!!!! :-)
Abracao,
Rosangela