Duas
amigas relembrando „causos“ do passado
Conversar com a Miriam Rodrigues Costa é um
prazer! Ela é tao saudosista quanto eu e
tem uma memória de elefante. Ela também
se lembra de coisas „do arco da velha“, como dizíamos antigamente. De vez em quando dá certo de nos encontrarmos
„online“ para um papinho gostoso e comecamos a falar daqueles tempos de
outrora. Faz um bem tao grande já que moro „no outro lado do mundo“, como diz
uma sobrinha.
A Miriam teve uma infancia bem parecida com
a minha. Numa das nossas „prosas“ ela se
lembrou que gostava de fazer maranhao ( pipa/papagaio)
usando papel manteiga e cola de farinha de trigo. Lembrou-se daqueles saquinhos
de pano cheios de feijao que jogávamos para cima. Que farra!
Parece que as criancas de hoje em dia saíram daquele mundo lúdico que
tínhamos de brincar de casinha, empanturrá-la
de leite até inchar e azedar todinha.
Ela lembrou-se das Lojas Pernambucanas
quando ainda era ali na rua da estacao (referindo-se à antiga estacao ferroviária)
e do Seu Arnaldo da Casa Marques que ajeitava as calcas Lee que o Zé da
Santista trazia „importada“ vai se saber de onde! Naquele tempo a loja Santista era „a loja
tchan“ da cidade, pois o Zé tinha de tudo pra vender lá. Ficava ali descendo a
Padre Roque ao lado direito, anos mais tarde ele alugou um local enorme do
outro lado mais abaixo.
Falamos dos pastéis do Mercadao, oooooh
coisa boa! Domingo era dia de ir ao
mercadao para fazer a feira, era uma
delícia andar por todas aquelas lojinhas que vendiam de tudo: roupas, sapatos, panelas, guarda-chuvas,
santinhos, tercos, sem contar as galinhas, porcos, peixe, enfim, um pouco de
tudo havia lá.
Juntas comecamos a falar das antigas lojas
que nao existem mais: Casa Januzzi na
Rua Conde Parnaiba, que vendia materiais de acabamento para construcao, a loja
Chevrolet da Padre Roque, uma lojona bonita com carros „chiques“. Mais ali pra
baixo tinha a loja Irmaos Davoli e na
ponta da praca o famoso Posto Romanello.
Era tao bom aquele cheirinho de gasolina. Ah!
lembramos da antiga Rodoviária do Sr. Cesar Fragoso ali na Padre Roque
(que aliás até os dias de hoje quando alguém fala em rodoviária só me lembro
dessa!), eu pegava o onibus Cometa ali para ir para Campinas todos os sábados
estudar ingles.
A Miriam lembrou-se da loja Guerreiro,
tinha a Dona Trindade que sempre nos atendia lá e indicava os melhores tecidos.
Nossa! quantos tecidos compramos lá, alem das lingeries da Valisére, que eram
belissimas. Lá tinha também os produtos da Helena Rubinstein que eram tudo de
bom na época. Lembramos da Somodas na
rua Pe.Roque, a Antonia mulher do Eugenio ainda tinha bebe na barriga e a loja
estava lá a todo vapor, tinha roupas
lindas, masculinas e femininas, ternos da Camelo, sapatos Samello.
Lembramos dos tempos de fazer penteados que
pareciam ninhos na cabeça e das bananas
também, enchia-se de laque, grudento, sem falar que muita gente enrolava os cabelos
com cerveja pra fixar melhor!
Falamos sobre as roupas típicas daquela época, das pantalonas que tínhamos que
comprar dois panos, um pra cada lado da
calça, as barras pareciam saias longas. Teve também a época das meinhas com
sandalias tipo dancing days, eram de lurex dourado, soquete, um show! Naquele
tempo era bem mais fácil (e mais barato) mandar fazer uma roupa. Comprávamos o
pano, escolhíamos o modelo da revista manequim, que ja vinha com moldes e depois saíamos esbanjando o novo modelo
pela praca. Lembramos da Dona Vicentina
que fazia roupas em trico onde comprávamos boinas lindas paro inverno.
Lembramos do tempo que a moda era fazer
„permanente“ usando bigudi e aquele líquido que fedia pra burro. A maioria das senhoras mais idosas frequentava
o salao da Nega, pois ela era „mestre“ nisso.
A Miriam contou que fazia permanente só na franja -
ficava parecendo um topete! A
Neda tinha mania de cortar demais, ou como dizia minha avó, ela „metia a
tesoura mesmo“ e muita gente saía de lá com cara de Nhambu, aquele pássaro
pescocudo.
Lembramos de certas expressoes que
antigamente se usava falar, por exemplo:
Bater uma chapa era tirar fotos, que
chamávamos retrato!
Minha avó sempre reclamava de „dor nas
cadeiras"... demorou pra eu entender o que era ter dor nas cadeiras! Miriam se lembrou que o Chico Anisio tinha um
quadro em que ele dizia que estava com dor nos "quartos"! Lembramos de expressoes antigas como "bordejos"
, "sassarico", dar um "role".
Outra coisa que a minha avó dizia era:
" vamos prosiá um pouco" - é o que eu também mais adoro fazer! Sou chegada num bom papo e quando comeco nao
paro mais - uma verdadeira „matraca de Sao Joao“!
Na década de 70, quando levávamos um
"bolo" do namorado dizia-se
que ficávamos "virando bolsa".
E tinha também aquela de "segurar
velas" - quando acompanhávamos alguma amiga junto com o namorado. Ninguém
gostava de segurar vela!
Fiquei na dúvida com relacao a uma
expressao que eu achava que fosse „ fulana dá mais que xuxu na serra“, mas a Miriam me corrigiu e disse que era
„xuxu na cerca“.A expressao veio dos tempos em que os quintais eram separados por
cercas feitas de bambú e nela os xuxus cresciam e se esparramavam - e como dava muito xuxu surgiu a tal frase para aquelas „meninas mais
dadas“ !
Arroz de festa era aquela menina que estava
em todas e fazia de tudo para estar em todas!
Lembramos da Rádio Patrulha que também era conhecida por Corintiana, era uma peruona
branca e preta que os "homens da lei" usavam e quando víamos uma
saíamos correndo de medo. Nem sei do que
tínhamos medo! Nao tinha nada comparado
à criminalidade dos dias de hoje. Lembramos
do Módena que imitava a sirene dela, a criançada adorava rodeá-lo para
ouví-lo. Nas minhas lembrancas vejo o
Módena descendo e subindo a Rua Santa Cruz sempre com um guarda-chuva em baixo
do braco cantando: „Crianca feliz, feliz a cantar“. Um homem de bom coracao aquele Módena!
Quando uma moça não se casava até por volta
dos 23 anos era considerada "solteirona" ou "ficado pra titia"
– era assim que dizíamos.
Minha avó me chamava de sirigaita, que eu
nem sequer sabia o que significava e a
Miriam disse que era a mesma coisa que sapeca ou espivetada! Lembramos do „pé de bode“, aqueles carrinhos velhos de
antigamente que tinham uma manivela na frente pra dar partida.
E assim foi que ficamos quase uma hora
„prosiando“ na Internet e recordando os tempos de outrora! Imaginem se antigamente isso seria
possível. Se quiséssemos nos
corresponder com alguem tínhamos que escrever uma carta, levar ao correio ( lembro-me do tempo que lá no correio havia
um vidro de cola que usávamos para passar nas bordas do envelope para fechá-lo
e também no selo… tinha gente que
lambia, mas eu nao gostava de fazer
isso, pois depois ficava com um gosto de „cabo de guardachuva“ na boca) – a carta
levava uma semana até chegar ao destinatário…. E se fosse no meu caso, que moro
no exterior, levaria pelo menos duas semanas!
Como os tempos mudaram!
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