sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

VIENA UMA, OUTRA EM MOGI MIRIM: AMIGAS DE INFÂNCIA FAZENDO O LIVRO... (conforme o rascunho que recebi...Participe!)


Duas amigas relembrando „causos“ do passado


Conversar com a Miriam Rodrigues Costa é um prazer!  Ela é tao saudosista quanto eu e tem uma memória de elefante.  Ela também se lembra de coisas „do arco da velha“, como dizíamos antigamente.  De vez em quando dá certo de nos encontrarmos „online“ para um papinho gostoso e comecamos a falar daqueles tempos de outrora.  Faz um bem tao grande já  que moro „no outro lado do mundo“, como diz uma sobrinha.
A Miriam teve uma infancia bem parecida com a minha.  Numa das nossas „prosas“ ela se lembrou que gostava de fazer maranhao ( pipa/papagaio) usando papel manteiga e cola de farinha de trigo. Lembrou-se daqueles saquinhos de pano cheios de feijao que jogávamos para cima.  Que farra!  Parece que as criancas de hoje em dia saíram daquele mundo lúdico que tínhamos de brincar de casinha, empanturrá-la  de leite até inchar e azedar todinha.
Ela lembrou-se das Lojas Pernambucanas quando ainda era ali na rua da estacao (referindo-se à antiga estacao ferroviária) e do Seu Arnaldo da Casa Marques que ajeitava as calcas Lee que o Zé da Santista trazia „importada“ vai se saber de onde!   Naquele tempo a loja Santista era „a loja tchan“ da cidade, pois o Zé tinha de tudo pra vender lá. Ficava ali descendo a Padre Roque ao lado direito, anos mais tarde ele alugou um local enorme do outro lado mais abaixo.
Falamos dos pastéis do Mercadao, oooooh coisa boa!  Domingo era dia de ir ao mercadao para fazer a feira,  era uma delícia andar por todas aquelas lojinhas que vendiam de tudo:  roupas, sapatos, panelas, guarda-chuvas, santinhos, tercos, sem contar as galinhas, porcos, peixe, enfim, um pouco de tudo havia lá.
Juntas comecamos a falar das antigas lojas que nao existem mais:  Casa Januzzi na Rua Conde Parnaiba, que vendia materiais de acabamento para construcao, a loja Chevrolet da Padre Roque, uma lojona bonita com carros „chiques“. Mais ali pra baixo tinha a loja Irmaos Davoli  e na ponta da praca o famoso Posto Romanello.  Era tao bom aquele cheirinho de gasolina.  Ah!  lembramos da antiga Rodoviária do Sr. Cesar Fragoso ali na Padre Roque (que aliás até os dias de hoje quando alguém fala em rodoviária só me lembro dessa!), eu pegava o onibus Cometa ali para ir para Campinas todos os sábados estudar ingles.
A Miriam lembrou-se da loja Guerreiro, tinha a Dona Trindade que sempre nos atendia lá e indicava os melhores tecidos. Nossa!  quantos  tecidos compramos lá,  alem das lingeries da Valisére, que eram belissimas. Lá tinha também os produtos da Helena Rubinstein que eram tudo de bom na época.  Lembramos da Somodas na rua Pe.Roque, a Antonia mulher do Eugenio ainda tinha bebe na barriga e a loja estava lá a todo vapor,  tinha roupas lindas, masculinas e femininas, ternos da Camelo, sapatos Samello.
Lembramos dos tempos de fazer penteados que pareciam  ninhos na cabeça e das bananas também, enchia-se de laque, grudento, sem falar que muita gente enrolava os cabelos com cerveja pra fixar melhor!


Falamos sobre as roupas típicas daquela época, das pantalonas que tínhamos que comprar dois panos,  um pra cada lado da calça, as barras pareciam saias longas. Teve também a época das meinhas com sandalias tipo dancing days, eram de lurex dourado, soquete, um show!   Naquele tempo era bem mais fácil (e mais barato) mandar fazer uma roupa. Comprávamos o pano, escolhíamos o modelo da revista manequim,  que ja vinha com moldes  e depois saíamos esbanjando o novo modelo pela praca.  Lembramos da Dona Vicentina que fazia roupas em trico onde comprávamos boinas lindas paro inverno.

Lembramos do tempo que a moda era fazer „permanente“ usando bigudi e aquele líquido que fedia pra burro.   A maioria das senhoras mais idosas frequentava o salao da Nega, pois ela era „mestre“ nisso.  A Miriam contou que fazia permanente só na franja  -  ficava parecendo um topete!   A Neda tinha mania de cortar demais, ou como dizia minha avó, ela „metia a tesoura mesmo“ e muita gente saía de lá com cara de Nhambu, aquele pássaro pescocudo.
Lembramos de certas expressoes que antigamente se usava falar, por exemplo:
Bater uma chapa era tirar fotos, que chamávamos retrato!
Minha avó sempre reclamava de „dor nas cadeiras"... demorou pra eu entender o que era ter dor nas cadeiras!  Miriam se lembrou que o Chico Anisio tinha um quadro em que ele dizia que estava com dor nos "quartos"!   Lembramos de expressoes antigas como "bordejos" , "sassarico", dar um "role". 
Outra coisa que a minha avó dizia era: " vamos prosiá um pouco" - é o que eu também mais adoro fazer!  Sou chegada num bom papo e quando comeco nao paro mais  -  uma verdadeira „matraca de Sao Joao“!
Na década de 70, quando levávamos um "bolo"  do namorado dizia-se que ficávamos "virando bolsa".  E tinha também aquela de  "segurar velas" - quando acompanhávamos alguma amiga junto com o namorado. Ninguém gostava de segurar vela!
Fiquei na dúvida com relacao a uma expressao que eu achava que fosse „ fulana dá mais que xuxu na serra“,  mas a Miriam me corrigiu e disse que era „xuxu na cerca“.A expressao veio dos tempos em que os quintais eram separados por cercas feitas de bambú e nela os xuxus cresciam e se esparramavam -  e como dava muito xuxu  surgiu a tal frase para aquelas „meninas mais dadas“ !
Arroz de festa era aquela menina que estava em todas e fazia de tudo para estar em todas!
Lembramos da Rádio Patrulha que também era  conhecida por Corintiana, era uma peruona branca e preta que os "homens da lei" usavam e quando víamos uma saíamos correndo de medo.  Nem sei do que tínhamos medo!   Nao tinha nada comparado à criminalidade dos dias de hoje.  Lembramos do Módena que imitava a sirene dela, a criançada adorava rodeá-lo para ouví-lo.  Nas minhas lembrancas vejo o Módena descendo e subindo a Rua Santa Cruz sempre com um guarda-chuva em baixo do braco cantando: „Crianca feliz, feliz a cantar“.  Um homem de bom coracao aquele Módena!
Quando uma moça não se casava até por volta dos 23 anos era considerada "solteirona" ou "ficado pra titia" – era assim que dizíamos.
Minha avó me chamava de sirigaita, que eu nem sequer sabia  o que significava e a Miriam disse que era a mesma coisa que sapeca ou espivetada!  Lembramos  do „pé de bode“, aqueles carrinhos velhos de antigamente que tinham uma manivela na frente pra dar partida.
E assim foi que ficamos quase uma hora „prosiando“ na Internet e recordando os tempos de outrora!   Imaginem se antigamente isso seria possível.  Se quiséssemos nos corresponder com alguem tínhamos que escrever uma carta, levar ao correio  ( lembro-me do tempo que lá no correio havia um vidro de cola que usávamos para passar nas bordas do envelope para fechá-lo e também no selo…  tinha gente que lambia,  mas eu nao gostava de fazer isso, pois depois ficava com um gosto de „cabo de guardachuva“ na boca) – a carta levava uma semana até chegar ao destinatário…. E se fosse no meu caso, que moro no exterior, levaria pelo menos duas semanas!   
Como os tempos mudaram!

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