Grandes Enxadristas
Moishe Mendel Najdorf nasceu em 15 de abril de 1910, em Varsóvia (Polônia), e faleceu em 4 de julho de 1997, em Málaga (Espanha). Najdorf foi um jogador de xadrez argentino de origem polaca, que alcançou o título de Grande Mestre Internacional.
Najdorf era de uma família judia que tinha uma abastada posição econômica. Aprendeu a jogar xadrez já tarde, aos 14 anos de idade, algo que ocorreu por pura casualidade: quem lhe ensinou foi o pai de um amigo, a quem Najdorf tinha ido visitar. O homem estava entediado e convidou Najdorf para jogar uma partida com ele enquanto aguardava por seu filho. Evidentemente Najdorf perdeu a partida, porém se encantou com o jogo no ato. No dia seguinte comprou o seu primeiro livro de xadrez (em francês), e na semana seguinte já ganhava de seu “Mestre”, dando-lhe uma torre de vantagem.
Decidiu que o xadrez seria sua vida, para o desespero de sua mãe que via que com esta decisão estava descuidando, perigosamente dos seus estudos. Tal era a preocupação da mãe pela formação de seu filho, que chegou a queimar todos os tabuleiros de xadrez que Najdorf comprara.
Seu talento era inegável e Akiba Rubinstein ao conhecê-lo tomou-o logo como seu discípulo. Mais tarde também teria como mestre Savielly Tartakower, que foi o que mais influência teve sobre Miguel. Com dois mestres como estes e com seu talento, não é de se estranhar que Najdorf progredisse com rapidez. Podemos ver alguns dos conselhos de Tartakower no seguinte link: (Como ensinava Tartakower).
Seu talento era inegável e Akiba Rubinstein ao conhecê-lo tomou-o logo como seu discípulo. Mais tarde também teria como mestre Savielly Tartakower, que foi o que mais influência teve sobre Miguel. Com dois mestres como estes e com seu talento, não é de se estranhar que Najdorf progredisse com rapidez. Podemos ver alguns dos conselhos de Tartakower no seguinte link: (Como ensinava Tartakower).
Seus primeiros passos o conduziram a torneios pelo seu país, entretanto não existem muitos dados sobre os resultados, mas nós podemos ver várias partidas que permitem comprovar que Najdorf era um jogador romântico na sua juventude. Mais tarde, quando foi adquirindo experiência, se tornou um jogador mais tranqüilo e capaz de dominar o jogo posicional, ainda que de vez em quando jogasse grandes partidas de ataque.
Em 1936, disputou suas primeiras Olimpíadas em Munique, e o fez defendendo a seleção polaca. A Polônia teve um grande êxito ao conseguir a medalha de prata. Najdorf conseguiu a medalha de ouro em seu tabuleiro (algo que lhe encheu de orgulho pela sua condição de judeu. Devemos recordar que naqueles tempos o partido de Hitler já estava no poder).
Sua primeira vitória fora da Polônia ocorreu no torneio de Budapeste em 1936, diante de Steiner, Szabo e Barcza.
Em 1939 viajou para Buenos Aires para disputar a sua segunda Olimpíada de xadrez. Neste período sua vida foi tomada de um horror. Os nazistas invadiram a Polônia e sua esposa e filha ficaram confinadas no gueto de Varsóvia. Para Najdorf foi como voltar a nascer. Sempre dizia que havia vindo ao mundo duas vezes: no seu próprio nascimento e em Buenos Aires em 1939. Sua vida se converteu a um inferno sem poder saber o destino de sua família. Buscou refúgio no xadrez e começou a fazer simultâneas as cegas para poder mandar dinheiro para sua família em tão difíceis momentos. Em 1940, os nazistas realizaram um dos atos mais cruéis da história, a matança do gueto de Varsóvia.
Muitos familiares de Najdorf morreram nesta noite, e mais tarde supôs que sua esposa e filha haviam falecido no fatídico campo de Auschwitz. Esta triste notícia ficou desconhecida de Miguel até o final da guerra, quando retornou a Polônia em busca de algum rastro de seus familiares. Entre familiares e amigos, Najdorf perdeu mais de 300 pessoas. Isto nos dá uma idéia da barbaridade cometida sem razão, pelos nazistas.
Depois de receber estas terríveis notícias, Najdorf decidiu se estabelecer definitivamente em Buenos Aires, longe de tais memórias amargas. Sua situação econômica não era boa e se viu obrigado a continuar dando simultâneas às cegas, o que lhe daria grande notoriedade, já que chegou a bater o recorde nesta especialidade em duas ocasiões.
Em outubro de 1943, estabeleceu seu primeiro recorde mundial. Jogou 40 partidas em uma simultânea na cidade de Rosário, durante 17 horas seguidas, ganhando 36, perdendo 3 e empatando 1
Em 25 de janeiro de 1947, Najdorf superou o próprio recorde, jogando 45 partidas em uma simultânea em São Paulo, durante 23 hs e 25 min, ganhando 39, perdendo 2 e empatando 4. Ele não conseguiu dormir nas próximas 30 horas, devido aos esforços realizados.
É difícil explicar o que significa tamanho esforço mental. Para tentar entender melhor este esforço vejamos as próprias palavras de Miguel Najdorf em uma entrevista concedida ao jornal A Gazeta em 1947:
“‘Para quebrar meu próprio recorde mundial, com 42 tabuleiros (o número cresceria para 45 até a realização do evento), eu afirmo: – será muito difícil porque é um verdadeiro malabarismo da memória. Muito mais que um simples jogo de xadrez, como qualquer um pode facilmente perceber, esta façanha representa uma total e absoluta identificação com uma habilidade muito distinta, mais relacionada a uma abordagem artística. Após memorizar 42 partidas, que multiplicando por 32 peças em cada tabuleiro resulta num total de 1344 peças, terei que manter, com total segurança e sem hesitação, nada menos que 2688 casas em minha cabeça e reconstruir não menos que 1680 jogadas nos diferentes tabuleiros.’ … ‘Como podem ver, meus amigos, é quase acima das capacidades humanas.’ … ‘No entanto, é necessário enfatizar ainda que isso tudo (por si só já um grande feito, como qualquer médico pode atestar) ainda não basta! É muito mais sério e complicado, porque requer um, digamos, talento especial – talento esse que permite a um jogador como eu, uma total abstração de todos os outros tabuleiros ao lidar com cada um deles. Bem, este (e todos os outros), muda a cada novo lance. Portanto, além da abstração por mim já mencionada – uma abstração dentro de cada unidade, uma segunda abstração é necessária: aquela referente às jogadas por mim analisadas.’
“‘Para quebrar meu próprio recorde mundial, com 42 tabuleiros (o número cresceria para 45 até a realização do evento), eu afirmo: – será muito difícil porque é um verdadeiro malabarismo da memória. Muito mais que um simples jogo de xadrez, como qualquer um pode facilmente perceber, esta façanha representa uma total e absoluta identificação com uma habilidade muito distinta, mais relacionada a uma abordagem artística. Após memorizar 42 partidas, que multiplicando por 32 peças em cada tabuleiro resulta num total de 1344 peças, terei que manter, com total segurança e sem hesitação, nada menos que 2688 casas em minha cabeça e reconstruir não menos que 1680 jogadas nos diferentes tabuleiros.’ … ‘Como podem ver, meus amigos, é quase acima das capacidades humanas.’ … ‘No entanto, é necessário enfatizar ainda que isso tudo (por si só já um grande feito, como qualquer médico pode atestar) ainda não basta! É muito mais sério e complicado, porque requer um, digamos, talento especial – talento esse que permite a um jogador como eu, uma total abstração de todos os outros tabuleiros ao lidar com cada um deles. Bem, este (e todos os outros), muda a cada novo lance. Portanto, além da abstração por mim já mencionada – uma abstração dentro de cada unidade, uma segunda abstração é necessária: aquela referente às jogadas por mim analisadas.’
‘Isso soa como magia…’
‘Soa como, mas não é. É algo inexplicável ainda que concreto e objetivo – algo que, em algum momento, me levou a esquecer todo o resto e a dedicar toda a minha vida, exclusivamente, à prática do xadrez, um jogo que me move, me acende, me preenche de paixão…’ ”
‘Soa como, mas não é. É algo inexplicável ainda que concreto e objetivo – algo que, em algum momento, me levou a esquecer todo o resto e a dedicar toda a minha vida, exclusivamente, à prática do xadrez, um jogo que me move, me acende, me preenche de paixão…’ ”
Ele também era conhecido por dar simultânea com os jogos normais (sem ser às cegas), aqui estão as duas mais populares:
Em 1947 jogou 202 partidas em umas simultâneas, durante 12 hs e 28 min, ganhando 182, perdendo 8 e empatando 12.
Já em 1950 jogou 250 partidas simultâneas em São Paulo, Brasil, durante 11 hs, ganhando 226, perdento 10 e empatando 14.
Durante os anos que durou a guerra, só participou de torneios na Argentina e Uruguai. Ali os adversários não eram muito fortes, o único rival de consideração que temia era o sueco Gideon Stahlberg (“um dos três mosqueteiros da seleção sueca”). Najdorf e ele iam dividindo a conquista de todos os torneios. Gideon Stahlberg também teve que refugiar-se na Argentina para fugir do genocídio desmedido, como vários outros jogadores de xadrez que se viram também obrigados a fazer o mesmo, como Pilnik. Muitos outros não tiveram a mesma sorte: David Przepiorka faleceu em um campo de concentração, Salo Landau, morreu em Auschwitz ou Endre Steiner que foi assassinado pelos nazistas.
Sua volta aos torneios europeus aconteceu a partir de 1946 e foi realmente de grande êxito, obtendo triunfo em vários deles. Ainda que os organizadores europeus requisitassem os seus serviços, Najdorf regressava sempre que podia para a Argentina, onde disputava vários torneios a cada ano. Podemos ver seus resultados no seguinte link: (Resultados de Najdorf).
Em 1949 conseguiu classificar-se para o Torneio de Candidatos depois de ficar em sexto lugar no internacional de Saltsjobaden, Suécia. A princípio só se classificavam os 5 primeiros colocados, porém Fine, Reshevsky e Euwe renunciaram o seu direito de participação neste evento. Eram tempos do domínio soviético no xadrez e os jogadores os temiam incondicionalmente. Najdorf chegou em boa forma no Torneio de Candidatos. Havia vencido em Amsterdam e Bled, e confirmou estas boas expectativas terminando em 5º lugar (depois dos jogadores da URSS: Bronstein, Boleslavsky, Smyslov e Keres).
Don Miguel começava a ser respeitado por seus rivais, principalmente depois da Olimpíada de Drubovnik (1950). Era a primeira vez que Najdorf representava a Argentina e não poderia fazer de melhor forma: medalha de ouro no primeiro tabuleiro com 11 pontos em 15. Além disso, a Argentina conseguiu a medalha de bronze atrás dos Estados Unidos e Iugoslávia (a URSS recusou participar deste evento). A Argentina jamais havia sonhado em alcançar uma posição tão alta, porém os exilados da 2ª Guerra Mundial haviam aumentado o nível dos torneios e muito destes jogadores haviam decidido jogar sob sua bandeira. Esta tendência continuou nas Olimpíadas seguintes como Helsinki (1952), quando a Argentina chegou a medalha de prata (atrás apenas da URSS), e Najdorf voltou a repetir o feito obtendo a medalha de ouro no primeiro tabuleiro.
Najdorf ganhou o respeito de todos os enxadristas com estas atuações e confirmou isto com boas atuações na maioria dos torneios em que participou. Em seu segundo e último Torneio de Candidatos em Zurique, Suíça em 1953, ficou na sexta posição, o que foi de grande mérito dado ao elenco de estrelas que disputaram o torneio. Em 1955 fracassou no Internacional ficando em 12º lugar e se convenceu de que não poderia mais lutar pelo título mundial, na realidade nem mesmo voltou a jogar torneio zonal. Ainda assim continuou ganhando torneios e foi considerado como um dos 10 melhores jogadores do mundo.
Seu estilo de jogo sempre foi muito agressivo, sobretudo na sua juventude onde ele praticava o xadrez dos tempos passados. Com o passar dos anos seu estilo de jogo foi-se suavizando, algo que tem ocorrido com todos os jogadores de ataque. Assim falava Najdorf: “Os jovens tem tempo para ter sucesso, combinado ataque. Buscar a beleza é privilégio de jovens talentos. O jogo posicional virá mais tarde”. Apenas de Mikhail Tahl se pode dizer que desencadeara furacões no tabuleiro, digamos então que Najdorf desatava ciclones que varriam sem piedade as defesas de seus rivais.
Najdorf era um jogador inquieto, somente estava sentado quando era para movimentar as suas peças. Sempre passeava pela sala conversando com outros jogadores, com um sorriso e sempre contando uma piada. Isto fazia com que fosse muito apreciado pelos seus adversários. Sempre que alguém falava dele, era para recordar de boas coisas.
Em 1970, Najdorf com 60 anos de idade, jogou o match URSS contra o Resto do Mundo. Miguel foi selecionado para jogar no tabuleiro número 9 onde ficou empatado em 2-2 com Mikhail Tahl. O resultado final foi favorável a União Soviética com 20’5-19’5.
Najdorf fez importantes contribuições para a teoria das aberturas, por exemplo, a india do rei. Esta abertura está sempre relacionada a nomes como Geller e Bronstein, porém o polaco/argentino introduziu várias novidades nela.
Também não devemos esquecer de como ele ajudou a desenvolver a Defesa Siciliana, na qual uma de suas variantes leva o seu nome (muito jogada na atualidade).
Esta é uma pequena homenagem a um jogador que teve uma vida dramática e complicada, mas que conseguiu fugir da loucura através do seu amor pelo xadrez e que lhe salvou nos piores momentos de sua vida e serviu para seguir adiante, não ancorado em um passado negro.
As estatísticas de Najdorf são: 226 vitórias, 268 derrotas e 164 empates; uma media de 49,6% ( a média é feita somando-se as vitórias e empates e dividindo pelo total de partidas).
Fonte: Ajedrez de Ataque
Robert James Fischer (Bobby Fischer) nasceu no dia 9 de março de 1943, em Chicago (EUA). Faleceu em 17 de janeiro de 2008, em Reykjavik na Islândia.
Fischer aprendeu a jogar xadrez com seis anos de idade junto com a sua irmã Joan. Ambos aprenderam de forma simples: lendo um folheto que vinha junto com o jogo explicando as regras básicas e o movimento das peças. A partir de então, não prestou mais atenção em qualquer outra coisa que não estivesse relacionado com um tabuleiro de 64 casas. O que era apenas um hobby para Joan, para Bobby tornou-se uma paixão que muitas vezes chegou a ser obsessão. Ela logo se cansou de tentar seguir o seu ritmo e parou de jogar com ele. Mas Bobby continuou absorvido pelas 64 casas, mas agora sozinho. Na verdade, a fixação da Bobby por xadrez adquiriu proporções quase patológicas.
Aos 12 anos se negou a ir à escola, argumentando com sua mãe o seguinte: “Prefiro ser o melhor enxadrista do mundo do que ser mais um entre muitos, em qualquer outra carreira”.
Fischer aprendeu a jogar xadrez com seis anos de idade junto com a sua irmã Joan. Ambos aprenderam de forma simples: lendo um folheto que vinha junto com o jogo explicando as regras básicas e o movimento das peças. A partir de então, não prestou mais atenção em qualquer outra coisa que não estivesse relacionado com um tabuleiro de 64 casas. O que era apenas um hobby para Joan, para Bobby tornou-se uma paixão que muitas vezes chegou a ser obsessão. Ela logo se cansou de tentar seguir o seu ritmo e parou de jogar com ele. Mas Bobby continuou absorvido pelas 64 casas, mas agora sozinho. Na verdade, a fixação da Bobby por xadrez adquiriu proporções quase patológicas.
Aos 12 anos se negou a ir à escola, argumentando com sua mãe o seguinte: “Prefiro ser o melhor enxadrista do mundo do que ser mais um entre muitos, em qualquer outra carreira”.
Fischer era um menino prodígio com um QI de 184, porém seu começo no mundo do xadrez não foi demasiadamente brilhante, ao contrário de ouros meninos pródigos como Morphy, Reshevsky ou Capablanca. Entretanto os êxitos não tardaram a chegar: aos 15 anos e 6 meses obteve o título de Grande Mestre, sendo até então, o jogador mais jovem da história a conquistar este título.
Para uma pessoa com sua inexperiência, Fischer começou a obter resultados espetaculares, chamando a atenção de toda a comunidade enxadrística. Nos Estados Unidos, a notícia começou a se espalhar rápido como um foguete. Afinal haviam encontrado um jogador capaz de fazer frente aos soviéticos em um futuro não muito distante. Pelo seu talento chegou a ser chamado de o Mozart do xadrez.
Estudou os jogos dos mestres do século XIX, algo que era recomendado a todo jogador jovem, e que refletiu em seu estilo de jogo. Durante toda a sua carreira se mostrou muito agressivo no tabuleiro, sem medo de usar sofisticadas combinações que destroçassem a defesa do adversário. Na realidade era um jogador de estilo universal, dominando todas as formas de jogo. Sua única prioridade era a vitória e não se importava com o modo de chegar a ela; talvez seja esta a característica que marcou sua carreira: a determinação para buscar a vitória sempre. Por isso, podia fazê-lo de maneira tranqüila, como no estilo de Petrosian, ou de forma brilhante como Anderssen.
Em 1956 jogou a que foi considerada a sua melhor partida: D. Byrne vs B. Fischer (Nova York, 1956), que ficou conhecida como “A Imortal do Século XX”. Quando jogou esta “jóia do xadrez”, Fischer estava com apenas 13 anos de idade, o que ficou constatado que um novo gênio havia aparecido no mundo do xadrez. Neste mesmo ano conseguiu seu primeiro título importante ao vencer o Campeonato Júnior dos Estados Unidos disputado na Filadélfia. O ano de 1957 foi a sua consagração. As diversas vitórias conseguidas em seu país lhe abriram as portas dos torneios europeus, única via para poder conseguir escalar os picos mais altos do xadrez. Desta forma pode começar a competir em busca do seu grande sonho: o Campeonato do Mundo. Deve-se ressaltar que foi campeão em seu país com 14 anos com uma vantagem de 1 ponto sobre o segundo colocado, Samuel Reshevsky.
Fischer era a única ameaça que os soviéticos viam no horizonte. O domínio desta prolífica saga de jogadores era devastador havia décadas, e diante dos ventos ameaçantes que sopravam sobre o Atlântico, decidiram unirem-se. Esta aliança pode ser observada nos vários torneios onde os jogadores da URSS jogavam com grande energia quando enfrentavam Fischer e reservavam forças quando se enfrentavam (com empates em poucos movimentos). Um claro exemplo disto ocorreu no torneio de candidatos de 1962, Petrosian ficou em primeiro lugar seguido de Geller e Keres. Fischer ficou em 4º depois de duras batalhas contra seus rivais soviéticos. Parece claro que utilizaram esta estratégia não muito esportiva, entretanto há de reconhecer o impressionante poderio dos mestres soviéticos, entre os quais havia vários com capacidade suficiente para ser campeões do mundo.
Durante esta época, Fischer publicou a primeira de suas famosas listas onde exprimia sua opinião acerca de quem haviam sido os melhores jogadores de xadrez da história. Nesta lista podemos observar a influência dos jogadores românticos em todos os enxadristas jovens. Anos mais tarde publicaria uma segunda lista.
Não foram tempos fáceis para Fischer, na maioria dos torneios era superado por algum representante soviético, algo que em seu caráter altamente competitivo era incapaz de assimilar. Ainda assim, conseguiu vários títulos de renome e sempre conseguiu ficar entre os primeiros em todas as competições da qual participou. Em todos os torneios que participou nos Estados Unidos, não conheceu nenhum rival a sua altura, somente no torneio internacional de Santa Mônica, 1966 que ficou em segundo lugar atrás de Spassky, e teve atuações sensacionais como no Campeonato dos Estados Unidos em 1963, onde venceu as 11 partidas que disputou.
A polêmica foi uma característica que, por sorte ou por desgraça, sempre lhe acompanhou. Fischer ficou famoso pelas exigências que fazia aos organizadores de torneios, e que por sua vez, ficavam literalmente loucos com elas, as quais podiam variar em questões de horas. Suas declarações nunca foram indiferentes a nada, sempre demonstrando uma ilimitada confiança em si mesmo (o que também pode ser definido como egocentrismo desmedido), mesmo em questões políticas. Podemos dizer que graças a insistência de Fischer, os enxadristas puderam desfrutar de melhores condições em sua profissão.
Porém, tudo parecia secundário para Bobby Fischer. Sua meta principal era ser campeão do mundo e sua grande oportunidade chegou no ano de 1971. A FIDE havia decidido mudar o formato do torneio de candidatos para acabar com as alianças dos jogadores soviéticos e para isto, decidiu que se jogaria por eliminatórias diretas. Este sistema favorecia Fischer, que se tornou o grande favorito e não decepcionou ninguém. Fischer não deu trégua a nenhum de seus rivais, demonstrando um xadrez espetacular. Estes foram os resultados:
• Quartos de final: Fischer 6 – Taimanov 0
• Semifinais: Fischer 6 – Larsen 0
• Final: Fischer 6’5 – Petrosian 2’5
• Semifinais: Fischer 6 – Larsen 0
• Final: Fischer 6’5 – Petrosian 2’5
Fischer havia conseguido se classificar para o campeonato do mundo e Spassky era o último obstáculo a ser superado para concretizar o seu sonho. Este duelo pelo Campeonato Mundial foi considerado o match do século. Com um claro transtorno político, em plena guerra fria, ambos os jogadores receberam apoio de seus respectivos países. O match ia além de Fischer e Spassky, convertendo-se em uma disputa entre as maneiras antológicas de viver.
Fischer nunca havia derrotado Spassky até este momento, algo que realmente não lhe preocupava. O encontro era tão importante que várias cidades propuseram sediá-lo, mas acabou sendo disputado em Reykjavik (depois da renuncia de Belgrado pelas exigências estadunidenses). Este evento criou uma grande expectativa em todo o mundo, milhares aficionados chegaram a Reykjavik e centenas de jornalistas para cobrir a informação de cada partida. Porém, tratando-se de Fischer nada era seguro e estável, e depois de novas exigências o match teve de ser adiado. A primeira partida aconteceu em 11 de julho e foi vencida por Spassky, que demonstrava que ele também tinha ido a Islândia em busca da vitória. Entretanto, nem com o começo do encontro Fischer sossegou, já que decidiu nos presentear na segunda partida com novas desavenças com os organizadores, porque o marcador mostrava 2-0 a favor de Boris Spassky. Finalmente o match pode continuar e Fischer demonstrou um sangue frio sem igual, jogando um xadrez profundo e sem resquício de conseguir reverter com grande rapidez a desvantagem acumulada. Na sexta partida já estava na frente e na nona já contava com uma grande vantagem, tudo isso mostrando uma grande superioridade no tabuleiro. Realmete, Spassky não teve outras opções e Fischer alcançou o título de forma folgada apesar de um começo duvidoso. Este triunfo terminaria com o domínio soviético que durara desde 1948 e que parecia não ter fim.
Depois de conquista o campeonato do mundo, Fisher não voltaria a participar de mais nenhum outro torneio. Seus desentendimentos com aFIDE eram totais e se negou a defender seu título em 1975 contra Anatoly Karpov, que passou a ser o novo campeão mundial sem mover uma única peça. Karpov negociou com Fischer em várias ocasiões para que o match pudesse acontecer, porém no final das conversações sempre se rompiam pelo lado do norte americano. É uma verdadeira lástima não ter podido desfrutar do jogo de Fischer durante alguns anos, mas se tivesse enfrentado Karpov e Kasparov, haveria nos dado uma idéia mais clara do seu verdadeiro potencial.
E para a grande desilusão de todos, Fischer desapareceu sem que nada se soubesse dele e porque renunciara participar das competições de xadrez. A partir deste momento, só voltou a dar sinal de vida por algum escândalo. Na primavera de 1977, Fischer voltou a sentar-se diante de um tabuleiro para enfrentar o computador MacHack, em um match secreto de 3 partidas que foi disputada em Cambridge. O acordo estipulava que as partidas não seriam públicas, porém alguém as filtrou e foram publicadas nas revistas de todo o mundo. Fischer varreu literalmente a máquina nas 3 partidas, o que demonstrava que os computadores ainda se encontravam muito longe de poder derrotar o ser humano.
Em 1992, decidiu abandonar de novo seu retiro para jogar um match contra Boris Spassky (não oficial) na partida chamada de “Revanche do Século”. A bolsa era de cinco milhões de dólares, sendo que dois terços eram para o vencedor. Entretanto, a disputa foi marcada por momentos críticos. O match aconteceu em Sveti Stefan (Iugoslávia), que estava envolvida em uma guerra civil e sofria embargo por parte das Nações Unidas. Os EUA proibiram Fischer de participar do evento e ele cuspiu no documento em frente às câmeras criando uma grande crise. Bobby Fischer venceu o match por 17’5 – 12’5. Com este resultado demonstrava ao mundo inteiro que, apesar de seu retiro de 20 anos, continuava sendo um jogador capaz de jogar no melhor nível. E após o match, mais uma vez, Bobby Fischer decidiu se retirar do xadrez e sumir do mundo. Após a disputa, Fischer deu entrevistas acusando Anatoly Karpov, Viktor Korchnoi e Garry Kasparov de terem conquistados seus títulos em jogos arranjados. Por ele nunca ter perdido uma decisão pelo título mundial, o campeão ainda seria ele.
O melhor que podemos fazer é recordar seu talento sem limites e por sua fé inabalável em busca da vitória. Seu estilo era agressivo, buscava atacar e atacar até que seu oponente abandonasse. Sempre comentava que os que não jogavam 1. e4… na abertura eram uns covardes. Devido a isto, seu repertório de aberturas não era muito amplo, algo que era compensado com uma compreensão do jogo somente ao seu alcance.
Também dizia que a teoria de aberturas matava a criatividade, o que o levou a criar uma nova forma de jogar xadrez: o sistema Random. Esta modalidade consistia em uma colocação diferente das peças: os peões eram colocados iguais, porém a posição das outras peças era decidida por sorteio antes de começar a partida. Isto dava lugar a uma posição inicial distinta, no qual o conhecimento de aberturas passava a ser irrelevante.
Fischer sempre foi um personagem peculiar, com manias estranhas e outras verdadeiramente insuportáveis. Não se pode negar que o seu lado positivo, é que demonstrou ser sempre uma pessoa íntegra e fiel às suas idéias. Um delas era a sinceridade, tentando não mentir nunca e repudiava a falsidade. Uma prova disso foi no princípio de sua carreira, quando sua mãe havia conseguido um contrato de 500 $ para que Fischer fizesse um anúncio de pianos. No anúncio ele apareceria tocando piano, entretanto Fischer não sabia tocar e se negou a fazer porque não queria enganar o público desta maneira. Algo parecido ocorreu pouco antes do seu match com Spassky. Uma marca de produtos para cabelo lhe ofereceu uma alta soma para que aparecesse em seus anúncios. Fischer se negou dizendo que ele não usava nenhum creme para cabelos, então ele não poderia aparecer no anuncio fingindo que utilizava creme no cabelo.
Esta forma de pensar criou muitas piadas, uma delas esteve relacionada com sua aversão a bebidas alcoólicas: durante um torneio em Zagreb, a organização presenteou a cada jogador com duas garrafas de licor típico da região. Bent Larsen era o segundo jogador na equipe de Fischer. Bent foi até o quarto de Fischer para ver como ele estava e o encontrou abrindo uma das garrafas. Larsen surpreendido lhe disse: “Vai beber isto agora”? E Fischer lhe respondeu: “Não, só quero jogá-las pelo ralo da pia”. Larsen tratou de lhe convencer a não fazer isto, que pelo menos desse de presente a algum amigo. Fisher foi taxativo: “ Não quero ser o responsável pela intoxicação de um ser humano”. Uma pessoa sempre fiel aos seus princípios, até a última conseqüência.
Quanto a sua vida nos últimos anos, vez ou outra aparecia em cena concedendo uma entrevista a alguma rádio ou escrevendo um artigo em algum jornal. A maioria das vezes era para dar alguma opinião política, geralmente para criticar alguma ação de seu país com o que não estivesse de acordo (por exemplo, o embargo de Cuba na guerra do Iraque). Podemos recordar que Fischer foi proibido de entrar nos Estados Unidos porque tinha uma sentença pendente de 10 anos de prisão (por descumprir uma ordem dizendo que violaria sanções da ONU se ele jogasse xadrez na Iugoslávia, o que ele fez durante a sua partida com Spassky em 1992).
Havia sempre rumores de que jogava xadrez pela internet, porém de maneira anônima. Especula-se que era fácil reconhecer-lhe pelo seu típico movimento de rei e das primeiras jogadas, onde rechaçava roçar e movia seu rei a e2 ou d2. Entretanto isso são apenas suposições.
Os problemas seguiram perseguindo-lhe e no ano de 2006 foi detido no aeroporto de Narita (Tokio), por estar com o passaporte vencido. Isto ocorreu quando se dispunha a viajar para as Filipinas para ver sua única filha. Os Estados Unidos reagiram rapidamente e pediram a sua extradição pelo ocorrido na Iugoslávia em 1992. Então se desenrolou uma luta burocrática, na qual a idéia era encontrar um país que lhe pudesse acolher como exilado, algo que os Estados Unidos boicotaram continuamente. Neste ínterim, Boris Spassky teve um bonito gesto com o seu antigo adversário: escreveu uma carta à George Bush, pedindo que tirassem as acusações contra Fischer pela importância dele para com o esporte estadunidense. Além disso, adicionou que se Fischer fosse encarcerado, também deveriam lhe encarcerar e assim eles poderiam jogar xadrez na prisão. Esta história teve um final feliz. Fischer recebeu nacionalidade islandesa o que fez com que ele não pudesse ser extraditado para os EUA já que mesmos tendo acordo de extradição, as leis da Islândia não permitiam que nenhum “cidadão” islandês poderia extraditado para os EUA para responder por processos.
Durante a sua estadia na Islândia, continuou publicando notícia de tempos em tempos inclusive chegou-se a falar de sua volta aos tabuleiros para jogar um match contra Kasparov e Karpov. Em 18 de janeiro de 2008, uma notícia se propagou como um estouro de pólvora por todos os meios de comunicação. Bobby Fischer havia falecido por causas desconhecidas. A comoção no mundo do xadrez foi terrível. Foram feitas dezenas de homenagens em todos os meios de comunicação.
Fischer passou a ser uma lenda. Não são poucos que asseguram que ele foi o melhor jogador da história do xadrez, ainda que isto seja realmente difícil de mensurar.
As estatísticas de Fischer são: vitórias 447, empates 251, derrotas 89; Apesar de uma carreira curta, chegou a ter um ELO máximo de 2.785 pontos, algo que somente muitos anos depois foi superado por Kasparov, ainda que na atualidade Anand, Topalov, Kramnik, Aronian ou Carlsen já tenham deixado obsoleto esta marca….são outros tempos, hoje em dia se jogam muitos torneios no ano desde a adolescência o que cria mais oportunidades de aumentar o rating.
Fontes:
No Xadrez, um dos dois maiores gênios foi um cubano, nascido em 1888, na cidade de Havana, com o nome de José Raoul Capablanca. Seus principais dados biográficos falam por si mesmo: Aos 4 anos, vendo o pai jogar com um coronel espanhol, após três dias de observação chamou o pai e disse-lhe no ouvido que estava movendo o cavalo duma casa branca para outra de mesma cor e seu adversário não tinha observado. O pai, constrangido, pediu, então, ao coronel que jogasse com o filho, sendo aquele derrotado categoricamente pelo garoto. Sem conter o entusiasmo o coronel levou o menino para o Clube de Xadrez de Havana e o melhor jogador do clube, Iglesias, concordou em jogar com o garoto com a condição de dar-lhe a vantagem da dama. Vence Capablanca.
Com seis anos de idade deu um mate num dos mais fortes enxadristas cubano. Conservou-se o final da partida e a mesma está publicada, na revista moscovita “El Noticiário de Xadrez”, do ano de 1913, ano em que Capablanca visitou Moscou.
Com doze anos venceu, num confronto o mestre Juan Corzo pelo placar de 7- 5. Em 1905, ele vai estudar engenharia na Universidade de Colúmbia, tornando-se objeto de suspeita entre os professores por nunca errar uma questão de cálculo e precisar de apenas um quarto do tempo requerido para responder as avaliações. No mesmo ano, ele visita o Manhattan Chess Club, em Nova Iorque e participa de uma sessão de exibição dada pelo Campeão Mundial, Dr. Emanuel Lasker, sendo o único jogador a vencê-lo, sendo cumprimentado por Lasker com as seguintes palavras históricas: “É notável, jovem! Você não cometeu nenhum erro”! No seu primeiro match internacional, enfrentou o mestre norte-americano Eugene Delmar ganhando todas as partidas. Entre fim de 1908 e início de 1909 participou de uma tournée pelos Estados Unidos. De um total de 734 partidas, ganhou 703, empatou 19 e sofreu somente doze derrotas.
Em 1908 decide abandonar a engenharia para se dedicar ao xadrez; nesse ano ele enfrenta o campeão norte -americano, Frank Marshall e para surpresa geral, vence por 8×1! Devido a essa magnífica vitória é convidado para participar do Torneio Internacional de Mestres, em San Sebastian, 1911, sob o protesto de alguns jogadores pelo fato de ele não ter a qualificação de mestre. No final do torneio perdeu apenas uma partida, sagrando-se campeão. Em 1913, o governo cubano deu-lhe um posto na diplomacia, pedindo-lhe que divulgasse o país, jogando xadrez! Nessa época ele já falava 5 idiomas.
Desafiou Lasker, em 1911, pelo título mundial. Lasker aceitou, no entanto, impôs dezessete condições e o match não foi realizado.
Em 1914 tira em segundo lugar no torneio de St. Petersburgo, assistido pelo Czar. Ainda em 1914, em Moscou, venceu a Bernstein numa partida famosa pela magnificência de uma jogada: Db2!! E também por ter fundado uma nova estratégia de peões colgantes. Também bateu Nimzowitsch num elegante final de bispo de cores opostas.
Em 1921 desafia o campeão mundial, Lasker e lhe toma o título, num match que se celebrou em Havana. A partir de 1917 ele estabelece um recorde jamais igualado: 8 anos sem perder uma só partida! E a sua arrogância intelectual atinge as alturas: No intervalo de um torneio, em Londres, passeando casualmente pela sala de jogos, viu os mestres ingleses e americanos, analisarem uma partida sua, tentando demonstrar que ele poderia ter perdido; irritado exclamou: Usted hace tentativas; Yo no, yo se!
Sugere também que se acrescente mais duas colunas ao tabuleiro de xadrez e mais duas peças a fim de tornar o jogo mais complicado (ver imagem abaixo). Sua carreira de triunfos parece não ter fim.
Em 1925 é recebido como herói em Moscou e joga no Kremlin na presença de Stalin. Nesse mesmo ano vira ator de um filme russo, Chess Fever, uma história açucarada em que um jovem soldado e a sua amada resolvem se casar inspirados pelo campeão, durante a sua estadia em Moscou.
Os seus dias de glória, entretanto, estavam se findando e a sua perdição, (justificando plenamente uma máxima do filósofo pré-socrático, Hesíodo, que dissera: “Aonde estiver a origem do que é, aí estará o seu fim. As coisas pagam umas as outras, castigo e pena, conforme a sentença do tempo”) foi, paradoxalmente, a sua inteligência! Em 1927, vindo de uma exibição no Brasil, ele chega a Buenos Aires, Argentina, para colocar o seu título de campeão mundial em jogo contra o apátrida russo, Alexandre Alekhine. Este nunca tinha lhe ganho uma só partida, em todos os confrontos anteriores. Ele impedira, ainda, os organizadores de colocar uma cláusula, obrigando Alekhine a um novo confronto, em caso de uma derrota sua, por considerar tal hipótese, improvável! O match terminou com uma inesperada derrota! 6-3 a favor de Alekhine e 33 empates. O novo campeão jamais concedeu-lhe uma oportunidade de revanche. Capablanca, então, deu-se conta que o mundo do xadrez não era formado, propriamente, por nobres. Uma das pré-condições que o novo campeão exigia para participar de torneios era que Capablanca não fosse convidado. Alekhine, tinha dito sobre Capablanca em 1914: “nunca, nem antes e nem depois encontrei alguém que pensasse a uma velocidade tão fantástica como ele naquela época. Nem sequer podia imaginar algo parecido. É suficiente dizer que ganhou todas as partidas rápidas que jogou contra os mestres de São Petersburgo, com uma relação de tempo de 1:5”. Depois de ter um lance criticado por Capablanca, na modalidade de xadrez rápido, Nimzowitsch se ofendeu: “os jogadores sem trajetória deveriam manter a boca fechada na presença de seus superiores!” Capablanca , em resposta, desafiou-o a enfrentá-lo numa série de jogos rápidos, ganhando facilmente todas as partidas. Os mestres presentes concluíram que Capablanca não podia ser superado no xadrez relâmpago. Esta distinção se manteve até o final de sua vida.
Em 1931, num match contra Euwe para uma suposta revanche contra Alekhine, Capablanca foi criticado por desconhecer a famosa cilada de Monticelli e ter caído nela. Nesta cilada se perde uma qualidade. Capablanca, porém demonstrou que a posição não era irrefutável! Quando argüido por Euwe, declarou que encontrara a solução na própria partida.
Os convites para torneios começaram a rarear. E ele afastou-se, para a consternação geral dos aficionados. Em 1934 começou de novo a jogar seriamente. Olga Chagoda (ver foto), com quem se casou em 1938, lhe inspirou o retorno.
O seu retorno triunfal, o canto do cisne, deu-se em 1936 no torneio de Moscou, onde tirou o primeiro lugar, sendo ovacionado longamente pelos circunstantes. Neste torneio ele vencera Alekhine. Partindo de uma posição inferior, conseguiu plantar uma cilada sutilmente elaborada que não foi percebida por nenhum dos mestres presentes, à exceção de Lasker. No mesmo ano, tira segundo lugar no torneio de Nottingham, ganhando um prêmio de beleza pela sua partida contra o arquiinimigo Alekhine. Primeiro lugar em Paris 1938; segundo em Margate, 1939 e primeiro em Buenos Aires, 1939. Capablanca conquistou o primeiro ou o segundo lugar em trinta dos 35 torneios de que participou e perdeu apenas 35 partidas em matches e torneios de um total de 567 em toda a sua vida.
Botvinnik considerou “Os Fundamentos do Xadrez”, de Capablanca, o melhor livro de xadrez que já fora escrito. Neste livro estão alguns dos princípios essenciais deste jogo milenar: “o bispo é geralmente mais forte do que o cavalo”; “a junção da dama com o cavalo é superior a combinação da dama e bispo”. A explicação: o movimento diagonal do bispo sobrepõe ao da dama, ao passo que o movimento do cavalo o complementa, alcançando imediatamente posições que estão vedadas à dama, isoladamente. Botvinnik credita a Capablanca como o primeiro a fazer esta observação.
Ele era, possivelmente, o melhor jogador de dominó do mundo! Um parente seu, em Havana, César Revuelta Capablanca, conta: “o jogo de dominó em Cuba, tem 55 pedras e a maior pontuação por pedra é nove e a menor zero. Cada jogador pega dez pedras e ganha o jogador que colocar todas as suas. No caso de bloqueio, ganha aquele que tem menos pontos. Neste momento histórico, jogavam meu tio Enrique Capablanca, a minha tia Lupe Capablanca, meu padrinho César Graupera Capablanca e o mestre José Raúl Capablanca e Graupera. De cada 20 partidas, Capablanca ganhava de 18 a 19. Numa determinada partida, o meu tio Enrique fez um de seus comentários que ofendeu a Capablanca: “que lástima, me equivoqué en mi penúltima jugada, pues si hubiese jugado esta ficha, en lugar de la que jugué, hubiese ganado”. Capablanca, o contestou: “você não sabe o que está dizendo”. Os demais jogadores já estavam distribuindo as pedras para a próxima rodada. “Vamos reproduzir o jogo anterior”! Todos se quedaram mudos e inclusive os que jogavam xadrez próximos, interromperam as suas partidas e se levantaram para assistir o incidente, algo assim como um ato de magia. Com assombro, os presentes viram Capablanca distribuir as pedras viradas para cada um, num total de 4 x 10= 40 pedras. Para si, separou as quinze pedras restantes, tudo isso numa velocidade supersônica! Então diante dos olhos de todos começou a reproduzir a partida e disse assim: “ eu abri com duplo sete, fulano jogou tal coisa, este passou e aquele não jogava, etc”., até reproduzir o jogo completo ante a vista e a aprovação de todos. Então ao chegar ao momento do comentário do tio Enrique, disse a este: “ao seu ver, qual é a variante ganhadora”? Meu tio ficou mudo. O maestro disse, então: “Bom, eu te ajudo. Há três variantes possíveis: a primeira é esta, e ao que parece foi a que você comentou e como pode ver, o jogo continua assim e ganho eu! Com a segunda variante o jogo se bloqueia aqui e novamente ganho eu, por ter a menor quantidade de pontos! A terceira variante foi a que você comentou e na qual eu ganhei a partida! A partir daí todos se recusaram a jogar com ele, com receio de terem as suas limitações avaliadas.
Capablanca era bastante sensível às críticas e também muito vaidoso. Ninguém procurou a simplicidade no xadrez mais do que ele. A crítica mais comum que ele recebia era a de que se não pudesse, no tabuleiro, conseguir objetivos por meios simples, nem sequer tentava outros caminhos. Num torneio jogado no auge do seu extraordinário período de invencibilidade de oito anos, ele chegou numa posição no qual o ganho poderia ser obtido por um vistoso sacrifício de dama. Para a frustração dos presentes ele optou por uma variante diferente. No final da partida, perguntaram-lhe se ele não tinha visto o sacrifício. A resposta: “foi a primeira coisa que eu vi! Porém, não era o mais simples”! “O jogo de Capablanca produzia e segue produzindo um irresistível efeito artístico. Em suas partidas predominava uma tendência a simplicidade e nesta simplicidade existia uma beleza única e genuinamente profunda”! (Botvinnik). “Por que eu sempre gostei de Capablanca? Porque jogava de um modo muito simples e muito claro. Sempre se há dito que a simplicidade é a irmã do talento. Quando um homem com talento escreve versos, faz fotos artísticas ou alguma outra coisa, todos dizem: ”eu também posso fazer o mesmo”. Porém, não podem. Só alguém com um verdadeiro talento é capaz de fazê-lo. Da mesma maneira, quando a gente vê hoje em dia as partidas de Capablanca, diz: “eu podia jogar assim”. Porém, por que só Capablanca foi capaz de jogar deste modo? A sua grandeza reside precisamente nesta simplicidade e nesta claridade do seu estilo”.(Petrossian). Em 8 de março de 1942, o seu maior adversário o “desafia” para uma partida de xadrez, num hospital de Nova Iorque, no qual todos os seus geniais recursos foram em vão. “O seu jogo magnífico deveria ter memorial perpétuo”- Marshall. “O maior jogador de todos os tempos” –Kasparov. “Chess Machine” – Réti.
Fonte: Clube Conquistense de Xadrez
Garry Kimovich Kasparov (em russo: Га́рри Ки́мович Каспа́ров) (Nasceu em Baku, Azerbaijão, 13 de abril de 1963) é um dos maiores campeões de xadrez de todos os tempos, com títulos mundiais consecutivos de 1985 a 2001. Possui a dupla nacionalidade russa e norte-americana. O primeiro nome de Kasparov foi Harry Weinstein, de acordo com a ascendência judaica do pai. Este morreu com menos de quarenta anos, quando o pequeno Harry tinha apenas sete anos.
Desde então tem vivido com a mãe, Clara Shagenovna, e sua família de origem armênia. A mudança de nome operou-se naturalmente, aos doze anos, conforme a lei, para Garry (Harry russificado) Kimovich (o apelido do pai era Kim) Kasparov (versão russa do nome da família da mãe, Kasparian).
Aos seis anos, Garik (assim era tratado Harry em criança) aprendeu a jogar xadrez sozinho no tabuleiro dos pais, e logo cedo mostrou a sua aptidão para a modalidade.
Com sete anos ingressa no centro de xadrez do movimento.
Pioneiros da juventude em Baku, os seus primeiros treinadores não escondem o espanto perante a extraordinária capacidade de memória que se destacava, visivelmente, das outras crianças.
Aprendendo de cor, lances, datas e resultados dos campeonatos do mundo, Garik começa a descobrir, também, o prazer da analise, envolvendo-se em complexos estudos orientados pelos seus instrutores. Os finais artísticos fascinam-no rapidamente. Alexander Alekhine impressiona-o. Desde muito novo quer imitar o grande campeão do mundo (1927-1935 e 1937-1945), e tem uma ascensão vertiginosa.
Aos nove anos atinge as primeiras categorias. Aos dez, tem o primeiro contato com a escola de xadrez de Botvinnik (campeão mundial 1948-1957, 1958-1960 e 1961-1963) e torna-se candidato a mestre! Conhece alguns treinadores que o acompanharão de perto: Nikitin (que ainda se mantém) e Schakarov (em Baku). Pela escola de Botvinnik passaram alunos como Anatoly Karpov, mas a maioria do estudo e orientado por correspondência. Os alunos tem apenas duas ou três sessões por ano com o Botvinnik, especialmente nas férias escolares.
Numa dessas sessões, depois de muitos progressos, Kasparov ouve do seu mestre as palavras mais reconfortantes para a ambição que já sentia, porque o seu estilo e comparado ao do próprio Alekhine, seu Ídolo! Botvinnik também dava os seus conselhos:
“Garry, há o perigo de se tornares um novo Larsen ou Taimanov (ambos grandes mestres, candidatos, no tempo de Fischer).
Mesmo numa idade madura, estes categorizados jogadores, por vezes, executam os lances e só depois pensam.”
Kasparov era uma criança irrequieta. O seu objeto não era Larsen ou Taimanov. Ele queria ser como Alekhine!
Carreira
Em 1992, Kasparov e Nigel Short acusaram a FIDE de falta de profissionalismo e favoritismo. Além disso, os dois recusaram ceder 25% dos prêmios para a FIDE que terminou por retirar o título de Campeão Mundial de Xadrez de Kasparov e negou a Short o direito de desafiar Kasparov.
Em 1993, a PCA foi criada por ele, na época o campeão mundial pela FIDE, e Short, para a organização e divulgação do campeonato que conferiria ao vencedor o novo título de campeão do mundo.
Em outubro de 1993, o duelo entre Kasparov e Short aconteceu no Savoy Theatre de Londres. Kasparov ganhou claramente (12.5-7.5) e tornou-se Campeão Mundial PCA. Como a FIDE expulsara Kasparov e Short, Anatoly Karpov jogou contra Jan Timman pelo título mundial da FIDE, onde Karpov triunfou. Pela primeira vez na história do xadrez existiam dois campeões do mundo, o campeão mundial da FIDE Karpov e o campeão mundial PCA Kasparov.
Em 1995, Kasparov defendeu seu título PCA contra o GM indiano Viswanathan Anand no World Trade Center, num match iniciado em 1 de setembro de 1995. Kasparov ganhou o match de vinte partidas (10.5-7.5). A PCA encerrou suas atividades por falta de patrocínio, quando a Intel deixou de subvencionar a associação. Quando Kasparov enfrentou Vladimir Kramnik em 2000, em Londres, já era sob a tutela da Braingames. Kramnik ganhou o match (8.5-6.5), e pela primeira vez em quinze anos Kasparov não era detentor de nenhum título mundial. Ele foi o primeiro enxadrista a perder uma disputa pelo campeonato mundial sem ter ganho nenhuma partida desde a derrota de Lasker para Capablanca em 1921.
No mês de fevereiro de 1996, o computador Deep Blue surpreendeu o mundo ao vencer uma partida contra Kasparov, mas o ex-campeão venceu três jogos e empatou duas, vencendo a disputa de seis rodadas. Em maio de 1997, em uma outra partida, o computador derrotou Kasparov pela primeira vez. A IBM mantém uma página do evento. Porém, tal feito da IBM gerou polêmica, com a suspeita de Kasparov de que a IBM estava trapaceando para fins de auto-promoção. Um filme documentário chamado “Game Over: Kasparov and the Machine” relata essa suspeita.
Kasparov anunciou, para surpresa geral, sua aposentadoria em março de 2005, após vencer o Torneio de Linares.
Política
Kasparov foi preso em 14 de abril de 2007, após liderar uma manifestação contra as medidas tomadas pelo presidente russo Vladimir Putin e foi liberado horas depois. Kasparov se candidatou em 2007 para a presidência da Rússia em 2008. Em Novembro de 2007, foi preso novamente por fazer parte de manifestações contra Vladimir Putin, sendo libertado 5 dias depois da detenção.
Fonte: Tabuleiro de Xadrez
oi
ResponderExcluiresse site me ajudou muito
ResponderExcluir